Não quero mais que você pegue a moto

Não quero mais que você pegue a moto. Aliás, não quero mais você saindo tanto de casa. Que bom que parou de trabalhar fora, assim cuida melhor do nosso lar. Pode deixar que eu te sustento. Só peço - lê-se ordeno - que o jantar esteja pronto quando eu chegar e que você não pegue mais a moto. Frango, de novo? O que você tá pensando? Tá perdendo tempo com leitura, é? Já dizia o Gaston, na idade média, que mulheres não devem ler livros, porque começam a ter ideias, a pensar. Não quero mais que você leia tanto. Não quero mais que você pense tanto. Melhor continuar assim, estúpida, bicho burro. Onde estão os nossos filhos? O mais crescido, que você teve com 19 anos, logo que a gente se casou, é machão igual ao pai. Reprodução, é pra isso que servem vocês, mulheres. Prazer? Que absurdo! Sei bem, você apaga a luz porque tem vergonha de si mesma, buscando um prazer que nunca vai atingir enquanto não se libertar dessa repressão sexual em que te amarram, que tens que engolir como se fosse intrínseca da sociedade. Eu sei disso, mas não quero você descobrindo. Melhor apagar a luz de novo, para que você não veja esse corpo de mulher na cama. Tão cheio de pecado, quase demoníaco e,
espera,
lindo.

Como chegamos nisso?

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