Imagina que louco

Imagina que louco uma casa sem portão. Várias casas sem portão. Uma terra onde as pessoas que chegam são recebidas com uma cuia de chimarrão e uma boa prosa. Pense no absurdo, as pessoas confiam umas nas outras e todas se cumprimentam na rua. Imagina que doidera, uma terra construída no vermelho, mas tudo que se vê é verde. Cinquenta tons de verde. Quinhentos. Cinco mil. Nada de cinza. Verde até no por do Sol, junto com rosa, laranja e amarelo.
Imagina que lindo, um ponto de ônibus cheio de margaridas. Mas, pensa que contradição, o ônibus só passa três vezes por semana.
O lindo progresso não chegou pra esse povo ainda. Deve estar vindo com o caminhão de lixo, que também não passa aqui, pra esse povo que se cumprimenta. Para esse povo, o céu de lona preta foi o mais estrelado por muito tempo.
É um povo bom. Preconceituoso, muitas vezes. Contraditório, muitas vezes. Mas é um povo bom. Que tem uma história muito mais sofrida, calejada e de luta do que muita gente. E tem gente que se acha melhor que esse povo.
Porque tem terra, porque tem carro, porque tem luxo. Imagina que absurdo.
E no louco do louco, a história da menina autista e do advogado coadjuvantes se torna muito mais interessante do que a história dos protagonistas.
Protagonistas de história têm terra, têm carro, têm luxo.
Eu gosto muito mais dos sem terra, sem carro, sem luxo.
Nesse céu de lona preta,
eles são as estrelas.
Pense no absurdo.

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