Volta amor Carvoeira sul


Eu vou deixar os outros amores para os universos paralelos. Eu vou deixar os outros amores numa gaveta discreta do armário de casa, numa gaveta discreta de mim. Vou pedir pra não abrirem e não tirarem nada do lugar, mas se quiserem, então que seja. Então prefiro que seja você. Mas devolva cada um de volta, pra onde estava. Os tantos outros amores devem mesmo é ficar ali.
Eu vou deixar meus outros amores pra contar nas próximas sessões de terapia comigo mesma. Vou deixá-los no será que será. Será que poderiam ter sido, outros amores? Se ele não fosse o meu amor, então talvez seria você. Mas se ele fosse, o meu amor, se ele deixasse o lugar vago pra você, será que teria dado certo? Será que você também não teria ido? Quanto eu teria amado, sofrido, desabafado e escrito sobre você? Quantas declarações teríamos feito? Teria eu invocado outros universos, ainda mais paralelos, por você? Talvez pudesse ter sido a gente, amor. Talvez pudesse ter sido amor.
Mas vou deixar meus outros amores para conjecturar, para imaginar as situações mais inusitadas. Vou deixar meus outros amores pra esquecer. Vou deixá-los no ponto. Quantos passaram que a gente perdeu? Quantos amores? Mas estão nos seus lugares, perdidos.
Vou deixar os outros amores para escrever, na constante aflição de que talvez fosse mais romântico te deixar ali também. No tempo esperado no ponto de ônibus. Na narração detalhada do primeiro beijo. Na mais longa aflição, que é a por reconhecer o seu rosto no meio dos outros.
Eu não sou tão boa com fisionomias. Note que os outros amores nem sempre têm rosto, mas podem ter seu cheiro e gosto, e a mesma cor de olhos dos seus, verdes. Ou da tempestade, castanhos. Ou da cor do pôr do Sol.
Todo outro amor é inspiração. E pra não ser mais um outro amor, tem que ser muita inspiração.
Eu vou guardar os outros amores juntos com os nossos bilhetes não premiados da loteria. Junto com os meus cartões não enviados ou não recebidos. Vou guardar com meus celulares roubados e arquivos perdidos, talvez achados. Com nossas conversas, contatos e sorrisos.
Quero deixar vivo o personagem mais apaixonante da história, mas que vença o melhor romance.
Os outros, deixo numa caixa na casa da mãe, onde um dia eu vou buscar um porta-retrato com tema de casal e uma foto nossa, no dia dos namorados.
Os outros amores, eu deixo pra olhar pra trás e pensar, será que era você? Será que era? Será que seria?
Eu, que sou tão fácil, farei uma bela coleção de outros amores, menos ou mais possíveis. Estaria eu na coleção de outros amores dos meus outros amores? Ou ainda, será que eu tenho a coleção ou será ela que me tem? De qualquer forma, sou refém. De um amor e de outros. De todos, mas principalmente do meu.
Vou deixar os outros amores para os outros universos. Por escolha nem sempre minha. Por intervenção do destino ou do acaso. Por falta de tempo ou circunstância, mas não por falta de amor. Vou deixar os outros amores para sentir saudade do que não aconteceu.
Vou deixar os outros amores para os universos paralelos.
Esse universo, meu amor, não tem mais jeito, é todo nosso.

Comentários

Postagens mais visitadas