Tretas incuráveis

Eu estou controlada. Relaxa, porque eu ainda estou de boa. Mas o meu pensamento já cai em você quando escuto músicas românticas. E eu rio. Tem nuvem escura no céu. Vai chover.
Não se preocupa, porque quando eu vejo os corações nos buracos da calçada, eu ainda tento me controlar. Para de sorrir, menina. Você tá vendo corações onde eles não existem. Isso não vai prestar. Eu sempre digo, mas eu nunca escuto.
Tem nuvem escura no céu e o meu guarda-chuva tá na bolsa. O sexo tem que ser seguro, mas ainda não inventaram proteção pra foder corações. E daí eu vou te culpar por qualquer coisa que você me passar.
E eu imagino que você tenha umas tretas incuráveis pra me passar.

Como aquela flor de plástico que você me deu, ou aquela de papel crepon que você pegou pra mim. Por que diabos me dar uma flor que não morre?! Você sabe que eu nunca vou ter coragem de jogá-la fora. Quem sabe eu passei um pouco disso pra você também. Não me cospe da sua vida assim. Não me esquece.
Todas as horas em vão que a gente passou. Todas as besteiras que a gente comeu. Todos os filmes que a gente viu. Todo o álcool que a gente bebeu.
A sua mãe, cara. Manda um abraço pra ela, sério. Os seus amigos. Diz, por favor, que eu não sou uma vaca, tá?
Todos os fins de tarde que a gente passou juntos. Eu não vou lembrar de tudo, mas alguns detalhes vão ficar. Aquele dia que eu cantei. Aquele dia que você falou das minhas unhas. Aquela aula que eu matei pra ficar com você. Aquela piada horrível. Aquele dia que você cantou. Aquele primeiro toque que me deixou arrepiada. Aquela escada. Aquela blusa sua que eu gostava.
Todos os elogios que você me fez. Todos que eu te fiz. Todos os carinhos. Isso é AIDS pro coração. Não cura, não sara e vou passar para todos os próximos.

Toma cuidado. Eu tô me controlando, mas vários testes deram resultado positivo. Eu tenho várias doenças amorosamente transmissíveis que são incuráveis.
Te dou um conselho: corre ou arrisca. Vai na sorte mesmo.
Na verdade, acho bom que você me passe alguma treta incurável. Se não, do que eu vou lembrar?
Assim que a gente faz amor inseguro.
Assim que tem que ser.

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