Minha próxima esposa vai gostar de mim

Oi, moça. Pode entrar, viu? Ah, esqueci por um momento que você já tinha a senha para entrar no meu prédio e na minha cabeça. Como que eu vou encaixar a água nessa história? Com a cidade mais linda do Danúbio, título de romance de Chico Buarque, onde a língua falada é mais complicada do que o dialeto da ilha de Santa Catarina, o tal manezinho, que eu ainda não tenho fluência. O Danúbio eu já conheci, mas aquelas águas ainda não me levaram até você. Até agora. Posso escrever um texto pra você? Dessa vez estou pedindo permissão, porque é assumidamente pra você. De vez em quando, aparecem pessoas, sem permissão, me interpretando e achando que os textos são pra elas. Eu tento disfarçar, jogo aquela do eu lírico e do tu lírico, mas ninguém acredita. Acho que assusto um pouco essas pessoas. Elas passam por mim, apressadas, carregando papéis, tirando fotos. Eu dou um sorriso e elas pensam que eu estou sempre sorrindo. Então, quando me conhecem, elas percebem que eu estou sempre lírica. No texto sobre você, vou dizer que você vai me fazer esquecer de tudo que não me faz sorrir. Você é a felicidade prometida, assim como era a América para os meus antepassados húngaros. Falar com você me acalma. Depois de você, os outros são os outros e só, como já diria o Leoni. Achava que você era errado, era pecado, pois era algo novo. Agora vejo como é normal amar a pessoa que entrega água na sua casa. A pessoa que mata sua sede. Ainda viajo aconselhada pelo Google Earth, mas eu não coloco  mais cadeado na ponte. Não jogo a chave no Sena. Porque eu não quero te prender e não quero ficar presa. No máximo eu jogo uma flor, mas no Danúbio. Carolina disse para Maria Helena que não queria ser atriz, queria ser personagem. Se você também queria, considere feito. Porque por mais que o meu ascendente seja seu signo e isso faça de nós duas dois demônios, eu não posso ser a minha própria poesia. Moça d'água, a minha poesia é você.

Comentários

Postagens mais visitadas