Juro que não foi você.

Você não tem fogo? Como assim? E aquele isqueiro que eu comprei pra você? Mas você também né, me comprar um isqueiro, e eu nem fumo. O que mais você perdeu? A camiseta, aham. As camisinhas, também. Não ia deixar pra usar com outra pessoa né? Deveria? Ué, deveria. Que mal tem? É que não sei, meio estranho. Tudo está com um ar de usado. Eu estou com ar de usado. Espera aí que eu vou tomar banho. Ah, aproveita e leva as tuas toalhas daqui. E todos os produtos que são seus. O perfume que eu te dei, é pra deixar? Caralho, você foi me dar perfume. Leva, leva, não quero isso ainda pra me lembrar. Amanhã eu passo lá naquela loja que a sua mãe falou e compro outro. Mas vê se não compra muito doce, tá? Pronto. Agora já estou me sentindo mais renovado e menos usado. Aqui, toma a camiseta que você me deu pra dormir e o casaco que eu roubei. Já que falamos de perfume, ele tá forte no casaco. Então eu levo o seu cheiro e você fica com o meu, combinado? Tá, né. Mas você tem sacola suficiente pra levar tudo? Eu pensei em levar nesse baú. Diz aí, no seu baú tem espaço pra mim? Para as minhas piras, os meus celulares, as minhas fotos? Vai ficar encolhido, pequeno, e eu vou querer te esmagar mais ainda, mas cabe. Isso é tudo então? Escuta, eu queria te recomendar um filme. Que eu nunca vou ver, agora que você recomendou. Nunca? Nunca. Mas então você me odeia? Não, não, eu vou tentar não odiar você, por isso que já odeio o filme. O isqueiro, o estado e a câmera. Mas depois, como que vai ser? Eu te mando um oi qualquer dia desses. Ou espero a gente se encontrar no mercado, nem que demore anos. Quando eu encontrar a sua mãe, eu nem vou perguntar de você, só vou cumprimentar e sorrir, tá bom? Tá, digo o mesmo. Se cuida, viu? Não esquece de deixar a chave.
Diz aí, o seu baú tem espaço pra nós dois? O meu tem.

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