Deixa o Sol me cegar

Deixa eu ser poética, vai? Deixa eu errar os pronomes, os verbos e as conjugações. Me deixa ler sem óculos de grau e andar no Sol sem óculos escuros. A vida fica tão mais bonita sem óculos escuros. Me deixa ficar olhando a ponte enquanto saio da cidade. A ponte combina com o Sol que combina com o mar que não combina com vírgulas. E o Sol não combina comigo, mas combina. Ah, me deixa contradizer, mudar de opinião, me deixa voltar no tempo. Hoje, ao passar pela ponte, não cantei 'Meu Deus, mas que cidade linda', mas sim 'E nisso o Sol cegou seus olhos', e passou um texto pela minha cabeça. O texto inteiro num flash: Pá!
Me deixa controlar os parágrafos, por favor me deixa controlar os parágrafos.
E vê se deixa eu repetir. Deixa eu errar, acertar, escrever, sentir, deitar, rolar, errar, repetir, reflechir, misturar. Quanto à pontuação, vê se me deixa.
Deixa que digam, que pensem, que falem. Me deixa cantar, me deixa cantar. Me deixa amar e me deixa cantar de amor. Me deixa desafinar. Deixa que eu me apaixone, caralho! Deixa eu me deixar levar. Deixa eu tentar e agir como eu acho que devo agir. Me deixa gozar, me deixa gozar.
Me deixa usar Caetano e Renato Russo. Me deixa te usar, te gostar, te ver e te querer. Me deixa ser eu. Quem mais eu do que eu? Deixa eu pensar que sou bonita e gostosa e que você me olha e me quer.  Deixa estar. Deixa ser. Me deixa até perder a deixa.
Deixa eu rimar. Deixa eu poetar. Me deixa feliz. Me deixa mais feliz que nunca. Me deixa na dúvida, me deixa louca. Me deixa pensar em você e me deixa escolher quando quero parar.
Deixa eu terminar o meu texto pedindo demais, sem métrica, sem rima.

Comentários

Postagens mais visitadas