Pêle-mêle

Que a minha mãe me perdoe eu precisar de mais um caderno. Quando encontram-se numa bolsa uma agenda, um caderno da Minnie pros estudos, um do pequeno príncipe pro trabalho (adivinhem: professora de adultos), um artigo da biblioteca mágica mais próxima e duas caixas de óculos, falta pontuação para explicar, fôlego para as escadas e espádua pra carregar isso tudo. Mas ainda me falta onde escrever, além daqui. Chego na biblioteca e pondero sozinha quantos lugares eu deveria ocupar. Preciso de uma mesa capaz de suportar todas as minhas versões e traduções que compareceram ao encontro. E ainda suas colegas de trabalho, os motoristas dos ônibus no plural, os leões que vieram de Júpiter e os peixes de março. Convenço-me a ocupar um só lugar, pelo menos o agora. Nossa relação desaparece como subconjunto do produto cartesiano e retorna toda pomposa, avanguardista e amiga dos poetas. De que adianta eu estudar mais idiomas se, no fim, é pra sua língua que eu volto? Puro prazer. Esses dias estava pensando em como quero gastar o dinheiro que eu ganhar com a minha aposta de loteria. Ah, os lugares que eu quero te levar comigo. Essa praça é a mais linda do planeta, que chance a sua estar nela. Apaixonada pela luz do Sol como sempre, mas só é vista no escuro porque tem medo de se queimar. Somos dois cardinais que ficam doentes no final do ano. O outono é a sua estação preferida. A vida é corrida, caraca, então aproveita. Há amores que cabem em cartas e há amores que usam todos os recursos de todos os veículos de comunicação possíveis para serem reais, racionais e, inclusive, inteiros positivos. Meu texto de domingo que começou na terça, meu alongamento de pernas, meu incenso de alecrim, lista de compras e cartão postal como marca-páginas. Que poder é esse que a escrita tem de me levar pra espairecer sem que eu saia do lugar?

Notas de rodapé:
O mês de março e o planeta Marte são ambos Mars, em francês.
Sorte em francês é chance
E aí como tá o curso de letras?