menina daltônica



a menina foi até o varal
pra ver se secou o lençol
levou pra dentro e dobrou
mas bem rápido ela voltou
ficou comigo ali fora
observando o quintal
gosto dos nomes dessa hora
crepúsculo e por do Sol

mas o nome que eu mais gosto
você não acerta, eu aposto
é difícil até de rimar
esse termo tão incomum
mas melhor, não há nenhum
então vê se não leva susto
pois agora vou revelar
e só pode ser lusco-fusco

gosto ainda mais das cores
eu enxergo melhor do que ela
e daquela linda aquarela
éramos dois espectadores

começou no azul de all-star
azul de passarinho
passarinho de Quintana
passou pelo verde de avançar
pelo roxo de vinho
e amarelo de banana

rosa de cerejeira
rosa de tantas flores
vermelho de fruta madura
vermelho de tantas dores
de sangue e de batom
não se ouvia nenhum som
de repente, uma loucura
chegou em casa uma criança
e os cães da vizinhança
fizeram uma barulheira

mas ela só observava
ou melhor, apreciava
e continuava quieta
gostava daquele momento
se ela tiver talento
deveria ser poeta

para escrever sobre o amor
sobre liberdade e sobre dor
a mente com seus dramas
o corpo com suas camas
sobre ser criancinha
e o crepúsculo da adulteza
e sobre ser passarinha
e ver nas cores mais beleza

ela, sempre em transição
num lusco-fusco de amor
sou eu aquele beija-flor
beija-flor de codinome
eu fico no pé de mamão
até a hora que o Sol some

depois eu saio voando
e a menina me invejando
de fato, é uma regalia
mas se eu pudesse trocar
eu sei bem o que faria
por mais que voar seja bom
pudera eu ter o dom
de fazer o céu virar
lusco-fusco poesia

Comentários

Postagens mais visitadas