Ora, pois



Aqui as ruas tem nomes bonitos. Tem a rua da alegria, a avenida da liberdade e rua da saudade. Saudade, palavra única do nosso idioma para a qual não encontro explicação. Venho sentido saudades, inclusive, do que ainda não deixei. E saudade do que sequer vivi.
Saudade de ser europeu, navegar os sete mares e voltar à península ibérica. Saudade do vinho do porto. Do pastel e do centro cultural de Belém. Mandar cartas de amor ridículas que enfrentam os monstros marinhos para chegar a ti. De comprar vestido branco na rua Augusta e casar em Lisboa, bem na festa de Santo Antônio.
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Que me perdoem minha vó e os demais parentes conservadores, mas minhas cartas de amor são destinadas a mulheres.
Navegar é preciso, viver não é preciso. Amar não é preciso. Amor é fogo que arde sem se ver. Se o amor nos cega, então cega sou e faço com Saramago nosso ensaio sobre o amor.
Amor é água, que pode parecer que já é mar quando ainda é rio. Como o Tejo, ficando cada vez mais largo até encontrar-se com o Atlântico.
Fique atenta ao correio, a senhorita pode receber uma carta de amor.
Que será ridícula, como todas as outras. Do soneto ao swap no tinder.
E ridículos somos nós, que continuamos a fazê-las incansavelmente.
Eu mesma, não nego.
Apresso-me em amar onde posso. Você me deixa saudade e eu te deixo um pedaço do meu coração.
Herdamos o português dessa terra europeia. Vim de longe, do além mar. De onde os bosques têm mais vida. A vida, mais amores?
A minha, mais amor.

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