glimpse

é estranho. é estranho como eu quero escrever uma coisa e acabo com outra coisa que eu nem sabia que queria sair. hoje é o dia do enterro da tristeza não porque ela deva ser escondida, mas porque ela quer florir. é estranho quando uma mulher morre assassinada pelo ex no banheiro de uma escola. é estranho não se sentir segura em casa. deve ser. é estranho querer muito ajudar um aluno que diz que quer matar todas as meninas. é estranho querer proteger uma criança que diz que adora armas. a gente é muito frágil. a vida é um sopro.
é estranho o amor.
é estranho como algumas das pessoas que mais amei na vida - se a vida fosse apenas os três dias que passei em brisbane ou em melbourne ou os três anos que passei de ensino médio (eca) - sejam hoje em dia apenas relâmpagos de memória e é estranho querer disfarçar as referências sem ver que a especificidade desse mundo é o que temos todos de mais comum. a gente morre e a gente ama e é engraçado que a ann reconheceu o bolero do ravel e que a bernadette robinson seja a minha acordeonista e que eu não me arrependa de nada. é estranho como eu goste de letras minúsculas e como eu separo meus impulsos de escrever em caderninhos e documentos de word e é estranho quando eu penso em escrever e acabo me relendo. ou lendo schopenhauer - já que eu tenho uma sorte descabida para achar preciosidades no sebo de jaraguá - ou pelo menos tirando o louco que estava lá marcando a página. mas o que eu colocaria no lugar? penso na minha foto com a ana em sydney, dessas novas polaroides. mas a gente tá melhor no meu passaporte do que no schopenhauer. talvez o cartão de amsterdã que ficou colado na parede da sala por tempo suficiente que o sol desbotou a pintura das casas a beira do canal. aquele cartão tem que sair de lá de qualquer forma e o louco tem que voltar ao baralho.
eu só preciso terminar o meu relâmpago.

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