fejedelem

Se eu escrever uma traição, você me perdoaria? E se não fosse uma, se fossem dez ou mais, pois já que são só escritas, que ao menos escritas sejam! O meu amor físico, terroso tem essa vontade cortada pelas superfícies da realidade material, do cheiro, do cuidado. Nada muda o fato de que quando eu quero me sentir em casa, eu levanto a gola da sua camiseta até o nariz e quase como viciada, em algum momento me sacio, paro, e posso voltar a ser feliz. O problema é a ilimitez da mente. Ah, meu amor, se você soubesse quantas histórias se passam aqui. De especiais de uma vez só, coisa de minutos, até vidas inteiras hipotetizadas. Arquitetadas e sem nomes. Eu preciso escrever de outros porque mesmo de bom amor vivido, eu canso. Não posso dizer que não são ameaçadores - se eu me concentro, eles são - mas eu não quero te preocupar. Escrever, eu preciso. Viver, eu não preciso. Os romances me bastam na palavra e é por isso que aqui estão. Procuraria em qualquer canto se não os achasse sempre aqui. Mas e se eu escrevesse, de fato? Se eu me apaixonasse pela colega de quarto de hotel e na última noite eu tivesse a experiência que tanto me aguarda, repetindo história na capital húngara? Se fosse um guia, que me buscasse no aeroporto e me falasse da cidade. Se eu ainda tenho alguma questão? Como você aconselharia gastar cinco horas livres por essas bandas? E se ele me conquistasse me levando nas pontes, nos picos, falando sobre livros e músicas. E se eu conhecesse alguém no szimpla tão parecido comigo que a gente não tivesse outra escolha além de se beijar? Ou se fosse meu amigo e se, depois do contato carnal, fosse descoberto que realmente não era pra ser. Se fosse platônico? Se fosse banal? E se eu te contasse quando voltasse como se fosse coisa natural? E se a gente terminasse pra depois eu te pedir de volta, e se eu escrevesse de um jeito tão bonito e pedisse de um jeito tão sedutor que você não resistisse? E se você se traísse e me beijasse, eu teria a certeza da compreensão pelo pecado, pois você saberia até que ponto um momento e uma bela boca podem te levar. Só te trairia se passasse pelo meu caminho um você que soubesse dançar, mas e se eu escrever? Se for eu Capitu articulando as entrelinhas de um jeito capaz até de me confundir a verdade, tudo bem pra você? Se fosse tudo de mentira, você iria me perdoar?

Comentários

  1. Helena, primeiro, seu blog é uma espécie de lar. É como entrar em um mundo, estético, adornado, experimental. Tem o aconchego de um quarto a meia luz. Você me perdoaria se eu pregasse, como um cartão postal, uma mirada estrangeira na sua parede? Seus textos me fazem lembrar a Heiner Hilke. Ele tem um livro, o "Cartas a um jovem poeta", em que ele fala que a poesia se encontra na pureza do olhar que verte a infância. Que o simples é, também, o mais difícil. Você tem esse sabor. Você já leu "Azul e Dura", da Beatriz Bracher? Recomendo. Beijos, querida.

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