Eu comi o alfajor que eu comprei pra você.



Comprei um alfajor pra você porque sei que você gosta. Esqueci de te entregar e então, bom, como já estava comprado, eu comi. Também tomei o vinho que você deixou na minha casa. Não era minha intenção te privar do consumo dessa bebida que foi comprada pensando em nós dois, mas bom, mesmo que o "nós dois" deixou de existir, o vinho ainda existia, já estava comprado e estava sob os meus cuidados, então eu tomei. Por sinal, você deixou uma caneca comigo? O teu casaco, eu só te devolvo depois de várias borrifadas do meu perfume nele. Isso se você ainda o quiser e cobrá-lo de mim. Espero, no fundo, que você nem cobre, que considere o casaco como perdido e fique por isso mesmo, ou que sequer sinta falta dele. Torço também pra que você não descubra que está comigo aquele seu arco de coelhinha. Bom, talvez seja melhor deixar essa história para outra hora. Ah, acho que eu tava te devendo uns dez reais da última vez que te vi, mas acho improvável que você me queira rever por essa quantia. Afinal de contas, você também deve ter ficado com alguns pedaços de mim. Dei por falta deles, depois de você. Quantas rimas eu deixei na sua casa e quantos versos eu esqueci nos teus sorrisos? Se algum dia você quiser aquele batom de volta, a gente pode até marcar um café, mas eu quero de volta um poema que nunca mais encontrei. Acho que perdi no meio das tuas cobertas, você pode dar uma olhada? Eu te levo um alfajor, se eu lembrar.

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