Era um bar novo

- Vamos tentar ir naquele bar novo. Tá sempre cheio, deve ser bom.
Na parede, tinha um quadrinho com uma vidente prevendo que o Cebolinha ainda iria beijar a Mônica. Mas, no fim, fomos eu e ela que transbordamos a cota de casais previsíveis daquela fatídica noite de sexta-feira. E olha que o papo chegou no Ross e na Rachel, no casal Ted e Robin, e no mister Big e Carrie. Por sinal, essa última new yorker apareceu pra mim esses dias acompanhada dos dizeres "Não se apaixone por uma escritora".
Que conselho mais horrível de se dar! Nós, escritores, somos mó legais, entrosamos pra caramba, chegamos na tua mesa de bar te pedindo conselho e marcamos a tua noite mais do que o diabo.
Pois é, meus amigos, dessa vez o escritor entrosão era eu. Não tinha música ao vivo, não tinha harpa e nem gaita de fole. Não tinha dança e não tinha Leoni.
Eu disse que precisava de uma personagem e ela se ofereceu. Disse que ia transformar o meu rascunho em arte final. Eu curti a iniciativa, mas ela logo colocou um obstáculo na minha missão de escrever pra ela.
- Se a gente não deve se apaixonar por escritor, então você, meu amor, não deve se apaixonar por personagem.
Então eu disse pra mim mesmo que não iria escrever sobre ela. Eu mudo o gênero da personagem para que não seja ela. Eu mudo a cor do cabelo e dos olhos pra que não seja ela. Eu mudo o signo da personagem e mudo o dia da semana que a gente saiu. Eu vou inventar que a personagem tem uma pinta onde a menina do bar não tem. É até melhor. Dizem que o leitor gosta de alguns detalhes aleatórios assim. Já sei! Vou dar um presente pra personagem. Pode ser um souvenir de viagem, um chaveirinho. De um cubo mágico, por exemplo, igual àquele que eu vi pra vender em Paris.
- Pra você.
- Nossa, não precisava! Eu adoro cubo mágico!
- Eu trouxe no meio da mala, vê se não tá quebrado nem nada.
- Quebrado não tá, mas os adesivos já estão soltando. Acho que você tentou trapacear hein!
Falou em tom de brincadeira.
Era verdade.

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