A causa foi cirrose hepática. [2]

Morreu sentada do lado da privada. Falaram que foi de tanto beber. Virou personagem dos conselhos que os pais dão.
- Viram, filhos, por isso que não se deve começar a beber muito jovem.
Disseram que ela bebeu demais, que ela era muito nova pra isso.
Troque seu coração por um fígado, assim você pode beber mais e sofrer menos. Era isso que diziam.
A verdade é que ela sempre foi fraca. Tanto pra bebida quanto pro amor. Um gole já era suficiente. Ficava alterada com pouco. Ficava animada, desnorteada, com voz de bêbada. Apaixonava-se também na mesma velocidade. Ficava alterada com pouco. Ficava animada, desnorteada, com voz de apaixonada. Depois pedia mais.
Gostava de experimentar tudo o que pudesse. Cerveja, vinho, vodca, jurupinga e aquela que tem que tomar com sal e limão. Até bebida azul ela provou. Quanto aos amores, a mesma coisa. Gostava de tudo. Ela era apaixonada por todos ao seu redor e isso era visível. Por isso era tachada de louca. Bêbada e drogada. Piriguete, talvez. Oferecida, dada.
Começou muito cedo, pobrezinha. Aos 15 já tinha se apaixonado perdidamente. Mudou de ideias, cedeu, fez sacrifícios por um amor que não durou. Daí foi ladeira a baixo. A próxima paixão, que deveria reconstruir, só fez destruir ainda mais. Ela era um caso perdido. Cada amor era um precipício. Cada amor era um ataque. Cada amor era um choque. Ela não sabia quando parar.
Acabava parando no bar. Começou cedo. Daí foi ladeira a baixo. A dose seguinte só fez destruir ainda mais. Ela era um caso perdido. Ela não sabia quando parar.
Acabou, por fim, parando no hospital. Disseram que ela deveria tomar bastante água para se hidratar, mas nada hidrata o coração seco. Seu corpo querendo, a todo custo, se livrar daquele amor todo. Que vergonha!
Morreu sentada do lado da privada. Vomitara a noite inteira.
Falaram que foi de tanto beber.
Mas foi de tanto amar.

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