A libélula, as cachorras e o beija-flor.


Esse texto não é meu preferido. Eu não gosto dessas histórias reais demais contadas objetivamente e que levam a uma reflexão qualquer. Até o nome parece de fábula, mas não tenho outro pra dar. Esse texto não cabe no outro rascunho, que só tem título e parece que vai continuar assim. Tem que ser um novo. É impressionante o descontrole das minhas frases. É só por elas que esse texto se faz. Pois bem, percebo que algo chocou-se com a parede de casa e em seguida vejo a libélula no chão. De tantos animais que eu vejo no jardim, aquela foi uma primeira vez. Como ela era colorida, tentei controlar as mamíferas de estimação que, também curiosas, rondavam o pobre ser. Pensei que poderia ser venenosa, eu não entendo nada desses bichos, mas uma bocada da Leila ou da Luna seria suficiente para a morte da atração voadora e possível intoxicação das peludas. Acontece que ela não voava. Depois de ouvir que algo se chocara com a parede, reconheci o algo agonizando no chão com as asas pra baixo, debatendo-se. Virei o bicho, com medo de sustos, mas ela não mais se moveu. Eu me perguntava se ela também estava deveras assustada ou se apenas tinha morrido. Certamente que a parede a machucou, pois aquela criatura mal se mexia, e também pudera. Defrontada com a parede, com o chão, com as desengonçadas proporções de seu corpo e com três seres muito maiores do que ela a observá-la; sem contar, é claro, a iminência da morte, sua inevitabilidade e o próprio motivo da sua própria existência. Depois de servir de modelo para fotos apressadas - dignas de quem precisa aproveitar cada visão da casa, pois vai demorar para sair dela - e depois de pular em um focinho e ganhar uma cheirada de outro, levantou seu voo pensando na sorte de virar uma personagem, mesmo que de uma não-fábula tosca, que não seja a preferida de ninguém.

E o beija-flor? Meu filho, o beija-flor é tão rápido que chupa todas as flores da árvore e segue seu rumo antes que eu tome a decisão entre pegar a máquina fotográfica ou só olhar. É lindo.

Comentários

  1. Adorei o texto. Fiquei aqui tentando identificar a qual gênero ele se encaixaria, mas parece uma mistura de crônica, conto e fábula. Isso é muito bom, pois adoro inovação! Parabéns!

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