carta à viagem


escreveria-la, a minha viagem, se pudesse.

como é bonita a nossa mente falando um pouco de cada língua e se confundindo em novos lugares. fazendo novos amores. porque a escrita não obedece? é sina do ser humano ser bicho sem o ser. é sina do ser humano querer ser arte. é sina querer dinheiro, querer o mundo. ah, como queria-lo ganhar.

se vira la bruja quando já se faz amizade com aranhas ou pelo menos não se contribui para suas mortes. quantos livros a ler, quanto tempo dedicado ao lugar. quantas coisas guardadas para que sejam jogadas fora mais tarde. a triagem. a mudança. como cansa ansiedade e como cansa ser! eu preciso abaixar o som como preciso dos sentidos. eu preciso do corpo e das plantas e do tempo e do chá.
imagina eu escrevendo o futuro. imagina um livro que faz a gente viajar tão longe num trajeto de ônibus que faz tantas conexões e ir parar na conferência da professora. depois reclama que não tem suficientes horas de sono, fica até madrugada escrevendo. batendo ponto em tec tec e falando sozinha. é tempo de dormir, minha filha. que sorte eu tive ao escolher os marca-páginas.
e o que dizer desse céu emoldurado. quebra-cabeça é bonito pela sensação de ordem. tudo está onde deve estar.
a vida é tão mais cruel do que o nosso mundo universitário guardando dinheiro pra viajar. a vida é um nojo. e o que mais me assusta é a vontade que a vida se tem de viver. da janela eu vejo uma rosa de um tom alaranjado quase neon sob a luz da tarde. como é estranho quando a gente tem muita coisa pra fazer e de repente bate a vontade de mudar todos os móveis da casa. parece que ao reordenar o externo, o interno vai se encaixando.
a moça vira os olhos pela estação de trem, completamente perdida em direções, a procura do lugar que vende comida mais barata. é o tempo que faz de tudo especial - e nem digo isso querendo parecer a pequena princesa.

a vida é bonita e eu escrevo suas cartas com dedos sujos de terra. me aguarde.

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