volta ao mundo carvoeira sorte

ou simetria ou aujoud'hui j'ai parlé en français en classe ou carta à viagem. meu deus como as línguas viajam na nossa cabeça e como isso é bonito. como a gente prefere umas letras e como a gente muda de letra no quadro pra dizer que podemos escrever a mesma coisa de jeitos diferentes e que por isso matemática e tradução não são tão diferentes. mas hoje eu não tinha cabeça pra aula de tradução. tá chegando o filho do mês, eu tô sentindo. eu gosto de ser indicada pra a posição de regente, eu não vou negar, ainda mais do sexto ano. e o jogo do mapa de sala, como será?
como é horrível gritar e descobrir que o menino sofre porque o pai leva cocaína pra casa e o irmão tem uma válvula na cabeça de fora a fora. ser professor é perceber que uma coisa tão... não sei nem a palavra, uma coisa tão pouca e tantas muitas como não ver pai dando chute em mãe já é muito do caminho andado. é ver o lado podre da vida. ou será fofoca? a aula devia ser o lugar pra ele sair dessa realidade por um tanto, mas como? ele é aquilo que sente e eu também. deixa eu colocar bibliografia no texto literário, deixa? me deixa não ser humana e parar de ser por um segundinho. me deixa ser planta e me alegrar com spoilers da primavera de vivaldi. como precisa de dinheiro e de alegria e o que elas querem, essas almas? que amor eles podem me dar se não recebem?

se eu fosse morrer amanhã, faria o caminho de todo dia até o aeroporto e pegaria o avião que me levasse ao destino mais esdrúxulo possível. a morte se enganaria já que os horários ficam confusos e os dias passam e voltam atrás do mapa.

ser professora [helena] é tentar ainda ser luz depois que pifa o carrossel