ensaio


existem coisas que eu só posso falar pra você e que não sei bem quais são. coisas que eu falaria pro espelho, pra eu do futuro. coisas que eu falaria pra um amor que não existe em um romance que não existe. existem as coisas que eu falo para todos e que eles até se cansam, mas as plantas não se cansam e estão vivas, quase todas, mesmo nesse frio. coisas que seriam ditas em conversas imaginárias, aulas, discursos. entrevistas, já pensou? parece que é por isso que a rosi chama de ensaios os textos que ela quer.
parece que a mente não pode se acalmar. tem que estar sempre ocupada, porque é preciso cansaço para poder dormir. escutamos nossas músicas quando caminhamos, com medo de que nossa mente fique presa sob as rodas dos veículos ou nas gargantas das crianças. eu tenho medo de deixar meus pensamentos livres para rebaterem nas paredes e no teto e no chão do banheiro. somos tão carentes de barulhos e depois quando os nossos ouvidos se fecham, em rebeldia, sofremos. falamos e gritamos e só me privo de cantar porque um dia me disseram que eu não tinha voz pra isso e depois, quando a minha garganta arde, me dói.
queremos tanto do corpo e da mente. a gente gosta do mundo como gosta da casa. eu tenho sorte de poder conversar com a minha mãe no espelho. não sei quem tem mais sorte do que eu. josé falou da questão da circunferência que caiu no vestibular, ele quer fazer direito. férias é bom pra colocar tudo em dia e fazer suas funções.

que estranho marcar a passagem de tempo no texto, até parece que estou no meu caderninho. quero a vida tanto que chega a doer. eu até tava com saudades de pegar o ônibus sentido aeroporto e ver o sol encerrando seu dia de trabalho enquanto eu começo a minha semana. por quantos caminhos a mente vai... viajo lendo-me. então é pra mim mesma que escrevo. o remetente é igual ao destinatário, com a diferença de um épsilon de tempo. o passarinho também vai pro sul, eu o vejo pela fresta da janela. acompanha a minha viagem um bom pedaço até que não acompanha mais porque é só um passarinho e tem todo o tempo do mundo, enquanto o ônibus carrega tantas pressas. como é bom poder conversar com minha mãe no espelho e que sensação estranha de se sentir em casa ao ouvir o barulho do trem.

será que o pássaro se pergunta como é a vista da gente?

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