Volta amor Carvoeira norte

- Eu não sei bem o porquê, só sei que bate mais forte pra mim. Tampouco posso dizer qual o quê, a poesia, o café, o açúcar... O fato é que bate mais forte pra mim. Os ipsis litteris
- Como é que é?
Escrevi e pronunciei certo? É que ainda não estudei latim e sou avesso a travessões.
- Os ipsis litteris, no plural, se existissem. Qual o segredo do feitiço? Ai, bruxa da ilha que me conquistou. E eu, que sabendo que chegaria sempre no teu mar, não fugi, não fujo. Olho os quadros da exposição e imagino a nossa casa. Te proponho uma vida pra chamar de nossa. Eu, você, dois cachorros e todos os nossos humores. Nos domingos vamos ao parque ou assistimos jogo. Me apaixono ainda mais do seu lado. E encare como uma coisa boa que nem sempre é por você.
Faço conta conjunta, compro aliança, te dou minhas chaves e senhas, já que o pior que você pode encontrar é um gasto grande em loja de livros e um desejo quase constante por novas almas. Tem escorpião no meu coração e, tudo bem, nós não ligamos pra signos, mas as almas devem ser gêmeas, você já sabe. Você, meu bem, você criou um monstro e que outro vício seria necessário depois de conquistar alguém? Mas e se eu te falar que eu já declamei poesia pelada no colo de vários e que ainda vou reclamar em outros, como que você vai se reconhecer aqui? Vou deixar claro, mas como? Ah, se você pudesse vestir o meu corpo lírico, por um momentinho que fosse, reconhecer-se-ia. Você sabe bem que eu vou negar, mas estou revirando os meus rascunhos, documentos do word, talvez até do latex, procurando por você. Revejo blocos de nota do celular e tento acessar até o mais fundo da gaveta mais escondida com lembranças. Eu vejo as fotos, eu deixo escritos pela cidade. E se eu te falar que vou fazer um livro com você, que vou te matar no final, hein, bruxa? Se depois eu te falar que mudei de ideia, de formato? Não te derreti, solidifiquei. Virou carne. Fraca, de coxa e de bochecha, alguns ossos estalados e uma boca impossível de descrever. Virou uma praia, um sorvete, um arrepio sul. Não somos mais duas mulheres e nem dois homens ou um de cada. Somos dois corpos, bem ou mal isomorfos. Duas variáveis. Vou deixar o escrito pronto para entregar quando te ver. Se eu te falar que perdi a previsão e que atrasei, por você, o planejamento, o agendamento da vida, o calendário.
Não tem mais nada lá fora. Só tem nós dois e o trem que está pra chegar. Mas se eu te falar que eu escrevo a esmo, eu te prendo ou você desiste de mim? Não procura aqueles secretos, por enquanto os deixamos assim. Eu não sei chegar no fim.
- Por isso que o ônibus chega. Que bom, pois a chuva vai vir. A gente se vê algum dia. Cuida bem do seu coração...

que bate mais forte pra mim.

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