Era o mesmo bar de rock


Eu vou deixar pra escrever amanhã, porque ainda não li o que eu planejei. Fui na biblioteca querendo te encontrar, mas quando peguei o nosso livro, vi que a gente se encontrou foi numa estação de trem. Foi só isso que eu vi, não cheguei no final ainda. Eu vou deixar pra escrever amanhã, porque a nossa história tem que servir de inspiração, e hoje a gente brigou feio então, se eu escrevesse, poderia até te matar. E eu só me permito matar pessoas se elas forem personagens. Na minha interpretação, eu até posso matá-las, mas elas nunca morrem. Assim como você não morre mais, por razões a priori e posteriori discutidas. Tudo que eu escrevo tem um pouco de você. Até o que eu escrevi antes de te conhecer tem um pouco de você, porque você sempre foi o amor que eu tanto procurava. Se por acaso você não acreditar em destino, não tem problema, porque eu também sempre nego a minha crença. Fomos feitos um pro outro, do jeito poético, literal, físico, metafísico e espiritual. Além de tudo isso, foi uma tremenda coincidência a gente se conhecer nesse universo. Mas não vou escrever sobre nada disso hoje porque já tá tarde eu não vou conseguir encaixar aqui o fato de que eu fui no banheiro e demorei retocando a maquiagem bem na hora que tava tocando Sweet Child O' Mine. Você ficou bravo comigo e nem percebeu que eu te dei um passe livre na melhor música do Guns. Eu, pelo menos, suponho que essa é a melhor música deles, porque foi a única tocada naquela noite que eu reconheci. Esses especiais de banda de rock que você me arrasta, hein. Ainda por cima pra pedir hambúrguer sem cebola, fala sério. E pro show do Jorge e Mateus, quando você vai me levar? Eu já sei que não vai dar dessa vez, porque a gente vai olhar o preço do ingresso e decidir investir em outra coisa. Precisamos de uma panela nova e eu sei que você quer muito comprar aquela blusa que eu gostei, só pra me agradar. Eu me sinto tão amada que é como se sobrasse amor igual sobra açúcar no fundo da xícara de café. Ainda bem que eu gosto de café doce, mas não vou escrever sobre isso hoje, porque corro o risco de não conseguir fazer você sentir o mesmo. Não posso escrever hoje porque sinto que vai aparecer no texto a minha vontade de esfolar a cara de uma pessoa no asfalto. Talvez, depois de escrito, o sentimento se acalme um pouco, mas de qualquer forma, quem ela pensa que é pra querer se meter no meio da gente? Viu, hoje não posso escrever, porque ela queria aparecer, e assim ela vai conseguir. Se for destino isso, então que seja, mas não serei eu a escrever. Não devo escrever hoje porque, mesmo sóbria o suficiente para omitir, estou alterada o suficiente para revelar. Não devo escrever hoje porque aquele bar de rock não me lembrou só de você, mas admito que foi você que arrebatou o meu melhor sorriso da noite. Sem música específica, sem trechos dessa vez e sem solos de guitarra que não vão me conquistar. Nessa madrugada, sem engenharia, sem direito e definitivamente sem matemática. Você é amor em formato máximo e por isso eu não devo te escrever.
Amanhã quem sabe, mas não hoje.

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