Nhoque

Meu ombro range por horas antes da chuva. É dor de quem precisa escrever e que vai descarregar frases bem, ou mal pensadas, em um pedaço de papel. Digo pedaço de papel porque tenho certo apreço ao passado. Se eu tivesse nascido em outra época, o canto dos meus ossos e o desabar de águas não teria como consequência esse tec tec frenético em teclas de computador.

Além das roupas esquecidas e das crianças extasiadas, os corações apaixonados são os únicos que tomam banho de chuva.

Qualquer quantia considerável de tempo sem você me faz querer escrever sobre como a solidão dorme comigo. Minha cama faz barulho devido à hóspede indesejada, de tanto que eu me reviro, tentando apenas ser capaz de ver o Sol nascer sem você.

Não me diga, por favor, que minhas declarações de amor são hiperbólicas demais. Ora, jamais se viu tal redundância.

Meus tec tecs ficam mais lentos porque a frase perfeita está escondida a sete mil chaves. Você é atalho. Se você está pronto, vivo e agosto, nada mais urge por ser exposto.

Amor não dito, de que me vale?

Procuro proparoxítonas para demonstrar amor. Acompanhadas por rimas ricas e um título cativante.

Inocente eu, que pensei que seria mais fácil escrever sobre amor depois de prová-lo. É possível cansar-se da escrita, mas até hoje não me saciei desse sentimento sórdido, que já inspirou tantos e prantos. Ilusão minha.

Vem para a chuva comigo. Já não tenho escapatória.

Se o texto escrito não for perfeito, o amor, pelo menos, será.

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