Topologia das cartas fechadas

Meu amor,

Até parece que as minhas cartas de amor preferidas são aquelas que são pra você. E olha que eu nem deveria escrevê-las, mas como bom aquariano que não sou, eu escrevo. O que mais eu poderia fazer? A essa altura do campeonato, você já pode ter percebido que eu prefiro cartas borradas de lágrimas a cartas não escritas. Ainda mais quando o destinatário é você. Você, meu amor, não vale uma carta não escrita. Você não vale a tinta não gasta da caneta roxa. Você não vale uma frase de amor não dita sequer. Você não vale uma palavra não rimada no final de um poema não feito. Você é um porre daqueles.
Morte de amor não é assassinato, não é suicídio e nem eutanásia. Morte de amor é acidente. Como que uma coisa dessas acontece? Você, meu amor, tem alguma resposta? De tanta gente no mundo, é você que eu quero materializar aqui do meu lado. Aqui na minha cama, pra esquentar essa noite fria. Depois de você, os pijamas compridos viraram obsoletos. Mesmo a saudade, mesmo a dor de amor, mesmo se for aquela dor que eu escutava os cantores cantando no rádio da minha avó, mesmo isso já me basta. E mesmo se for raiva. Até a tua indiferença, para não dizer a tua própria existência, já me aquece. Ah, meu amor, você não vale um suspiro não dado sequer. Você não vale a ausência do aperto. Você não vale a sua falta não sentida. O que falta em você, meu amor, é amor. O que faltava em mim era você, mas continua faltando. Afinal, o que seria de mim sem a falta tua?
A carta não acaba pra morrer. Ela acaba pra poder existir. Eu não ia deixar de escrever essa carta, mas você, meu amor, pode muito bem deixar de ler.

Eu espero que não deixe,
Seu amor.

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